Você
gosta de jogar conversa fora? Prefere um papo em particular ou atividades em
grupo? Estas e várias outras perguntas muitas vezes servem como testes de
personalidade para revelar quão introvertido ou extrovertido você é, mas o que
isso realmente significa? Conheça a ciência por trás de uma pessoa ser
expansiva, ou preferir ficar quietinha no seu canto lendo um livro.
A
extroversão e a introversão (E/I) são reconhecidos como aspectos fundamentais
da personalidade das pessoas. Hoje, são consideradas partes de uma série de diferentes
escalas de personalidade, mas a ideia de E/I remonta a quase um século
No
começo do século passado, o psicólogo suíço Carl Jung cunhou os termos
“introvertido” e “extrovertido” em seu trabalho do ano de 1920, “Psychologische
Typen” (“Tipos Psicológicos”). Em seu modelo, as diferenças entre as
personalidades das pessoas basicamente se resumiam à energia: pessoas
extrovertidas são energizadas pelas interações sociais, ao passo que esses
mesmos encontros sociais são energeticamente desgastantes para os
introvertidos. Ou seja, depois de participar de uma festa ou qualquer outra
reunião social, os introvertidos precisam de tempo sozinho para “recarregar”.
Os
extrovertidos são geralmente considerados sinceros, expansivos e preocupados
com o que está acontecendo com o mundo exterior. Os introvertidos, por outro
lado, sofrem um estigma social maior por serem tranquilos, reflexivos e focados
em seu próprio mundo interior. No entanto, E/I são muitas vezes vistos como
conceitos abertos, uma vez que as pessoas podem apresentar uma mistura das
tendências de introversão e extroversão.
O
próprio Jung acreditava que as pessoas não poderiam ser completamente
introvertidas ou totalmente extrovertidas. “Não existe isso de um introvertido
ou extrovertido puro”, ele teria dito. “Essa pessoa estaria no manicômio”.
Várias
décadas após Jung, o psicólogo alemão Hans Eysenck desenvolveu um modelo mais
baseado na biologia para explicar as origens e as implicações da E/I. Segundo a
teoria de Eysenck, os comportamentos introvertidos e extrovertidos se dão devido
às diferenças de excitação cortical (a velocidade e a quantidade de atividade
do cérebro). Comparados com os extrovertidos, os introvertidos têm naturalmente
um nível mais elevado de excitação cortical, o que faz com que eles consigam
processar mais informações por segundo.
Isso
significa, essencialmente, que se você colocar pessoas introvertidas em um
ambiente com um alto grau de estimulação, como um restaurante cheio, elas vão
rapidamente ficar sobrecarregadas, o que obrigará seu cérebro a “desligar” para
interromper o fluxo de informação. Devido a este fato, os introvertidos tendem
a evitar tais ambientes muito ativos. Os extrovertidos, por outro lado, são
apenas minimamente excitados nesses casos. Por isso, procuram ambientes
altamente estimulantes para aumentar seus níveis de excitação.
Outras
teorias para E/I também existem. Uma ideia proeminente ressalta o envolvimento
de sistemas de recompensa no cérebro das pessoas, o que sugere que o cérebro
dos extrovertidos são mais sensíveis a recompensas – como aquelas inerentes às
interações sociais – que o cérebro dos introvertidos. Esta sensibilidade
aumenta o desejo dos extrovertidos de participar de certas situações e eventos.
Dado o
fato de que algumas teorias sobre E/I envolvem explicações neurobiológicas, os
cientistas já tentaram encontrar evidências experimentais para elas. Já houve
inúmeros estudos de neurociência realizados sobre esse assunto ao longo dos
anos, muitos dos quais mostram que o cérebro dos introvertidos e dos
extrovertidos são realmente diferentes.
Por
exemplo, em 1999, cientistas mediram o fluxo sanguíneo cerebral de pessoas
introvertidas e extrovertidas utilizando o método da tomografia por emissão de
pósitrons (PET, na sigla em inglês), enquanto os participantes do experimento
pensavam livremente. Os pesquisadores descobriram que os introvertidos possuíam
um fluxo sanguíneo mais intenso em seus lobos frontais e no tálamo anterior –
regiões do cérebro envolvidas em recordar acontecimentos, fazer planos e
resolver problemas.
Os
extrovertidos, por sua vez, apresentavam mais fluxo de sangue nas áreas do
cérebro envolvidas com a interpretação de dados sensoriais, incluindo o giro do
cíngulo anterior, os lobos temporais e o tálamo posterior. Os dados sugerem,
como Jung acreditava, que os extrovertidos têm a atenção voltada para fora e os
introvertidos, para dentro.
Os mais
quietos são aqueles que mudam o mundo
Esta
mesma pesquisa também mostrou que os introvertidos têm mais atividade neuronal
do que os extrovertidos em regiões do cérebro associadas ao aprendizado, ao
controle motor e ao controle de vigilância, e que seus córtex pré-motores
processam estímulos externos de forma mais rápida.
Outro
estudos também sugerem que o cérebro de pessoas extrovertidas presta mais
atenção em rostos humanos do que o cérebro dos introvertidos. Na realidade, os
pesquisadores descobriram que o cérebro de pessoas introvertidas responde a
faces humanas assim como o faz a imagens de flores. Os extrovertidos, por outro
lado, mostram uma resposta mais forte ao rosto, o que sugere que os rostos
humanos, ou as pessoas em geral, possuem um maior significado para eles. Isso
explica, pelo menos em parte, por que buscam a companhia de outras pessoas.
E a
diferença continua. Em termos de linguagem, pesquisadores revelaram que os
extrovertidos e os introvertidos falam de forma diferente. Mais
especificamente, os extrovertidos usam palavras mais abstratas, enquanto o
outro grupo costuma falar de maneira mais concreta, pelo menos quando se trata
de descrever objetos. Os pesquisadores pediram que os participantes
descrevessem em voz alta o que acontecia em diferentes fotos. A conclusão foi
de que os introvertidos eram mais precisos em suas descrições.
Quando
se trata de aprender uma segunda língua, entretanto, os extrovertidos podem se
dar melhor, uma vez que são mais propensos a “usar seu sistema de linguagem até
o limite”. Ao contrário de seus colegas mais tranquilos, os extrovertidos
utilizam mais facilmente o que eles aprendem e se envolvem mais facilmente em
conversas dentro e fora da sala de aula.
Pesquisadores
também descobriram que o comportamento sexual de risco, como sexo desprotegido,
está associado à “busca de sensações”, uma característica relacionada à alta
extroversão. Esse pessoal também é mais propenso a se envolver em esportes de
alto risco, incluindo parapente e paraquedismo. Além disso, algumas pesquisas
já relacionaram a alta extroversão (e autoestima elevada, que pode ser
influenciada pela extroversão) com o tabagismo na adolescência.
Talvez
a mais importante – e consistente – descoberta das pesquisas em E/I é que os
extrovertidos são, em geral, mais felizes do que os introvertidos, e essa
felicidade dura por décadas. Os cientistas têm se empenhado para identificar a
causa da felicidade dos extrovertidos, embora eles ainda não tenham muita
certeza sobre os motivos reais.
Os
pesquisadores suspeitam que os extrovertidos possam sentir mais felicidade do
que os introvertidos porque são mais sensíveis a situações sociais
gratificantes. Outra hipótese é a de que essa felicidade venha do envolvimento
mais constante em atividades sociais. Alguns cientistas pensam que a felicidade
perpétua dos extrovertidos decorre de suas maiores habilidades de regulação do
humor. Ou talvez eles sejam mais felizes porque se atêm firmemente a todas suas
boas lembranças.
Ao
mesmo tempo, no entanto, os cientistas têm questionado se realmente os
extrovertidos são mais mesmo ou se eles apenas expressam mais seus sentimentos.
Há também a questão de como, exatamente, se deve definir o conceito de
“felicidade”. Seja qual for o caso, os dois grupos se beneficiam de diferentes
estratégias de aumento da felicidade, dadas as diferenças inerentes dos tipos
de personalidade.
Em um
livro recente sobre introversão, a autora Susan Cain explica que, embora
introvertidos componham de um terço a metade da população mundial, a sociedade
ocidental – os Estados Unidos, em particular (o mesmo pode ocorrer no Brasil) –
é toda centrada em indivíduos extrovertidos.
Ela
observa que as escolas e os locais de trabalho são projetados para as pessoas
extrovertidas, sob a crença de que a colaboração é a chave para a criatividade
e a produtividade (o oposto do que é verdadeiro para os introvertidos). Além
disso, os traços extrovertidos são altamente valorizados na sociedade de hoje,
o que faz com que os introvertidos sintam que algo está errado com eles (e,
talvez, os deixem infelizes). Ela propõe um novo sistema que dê aos
introvertidos a solidão de que eles tanto precisam.
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