Violência
em relação afetiva pode ter início na juventude
A violência está presente
no namoro de jovens, seja ela psicológica, sexual ou física. Pesquisa da
Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), realizada com estudantes do ensino
superior do estado de São Paulo, concluiu que 75% deles já sofreram pelo menos
um episódio de violência por um parceiro e 76% já foram agressores. As formas
de violência psicológica foram as mais comuns, estando a coerção sexual e a
agressão física em segundo lugar como mais prevalentes. A psicóloga Tânia
Aldrighi Flake, autora do estudo, constatou que, nesta faixa etária, não houve
diferenças entre os homens e as mulheres como agentes e vítimas da violência.
Os dados indicaram que
ambos os gêneros foram agressores e sofreram violência na mesma proporção.
Consultando outras pesquisas, Tânia comprovou que esta mutualidade se altera no
casamento, situação em que o homem se torna o principal agressor, apesar de a
violência conjugal diminuir de frequência. Segundo ela, é um desafio entender o
motivo dessa inversão de uma etapa da vida amorosa para a outra. "Há
alguma coisa no processo entre namoro e conjugalidade que traz essa mulher para
uma forma mais passiva e dá mais poder a esse homem", afirma ela, que
completa afirmando que, também é na etapa da conjugalidade que os danos
decorrentes da violência são maiores.
Quanto maior o tempo de
namoro, aumentam as chances de o relacionamento envolver violência. Esta é
outra constatação do estudo que envolveu 362 alunos de duas universidades do
estado de São Paulo. Os universitários foram escolhidos por serem pessoas
privilegiadas com o acesso a informações, e, segundo a psicóloga, "um dos
estereótipos que existe é que a violência é um dos privilégios das camadas
populares". A pesquisa considerou como violência psicológica as chantagens
emocionais, xingamentos e agressão verbal. Já a sexual inclui qualquer relação
feita sem consentimento dos dois namorados, bem como a ameaça a este ato. A
violência física vai desde beliscar, dar tapas, empurrar, até arremessar
objetos.
O espaço em que ocorrem as
agressões é mais uma diferença entre as duas fases da vida. Enquanto a
violência no casamento acontece dentro de casa, pesquisas internacionais
apontam que a escola é o espaço em que quase 50% das agressões acontecem,
portanto, indicam que a escola é um lugar propício para a intervenção. Além
disto, Tânia afirma que os programas de prevenção "não têm que acontecer
só para o homem ou só para a mulher, tem que inserir os dois".
A pesquisa usou dados
coletados pela psicóloga e incluídos no Estudo Internacional de Violência no
Namoro, coordenado pelo norteamericano Murray A. Straus, e que inclui 38 países
e 67 universidades ao redor do mundo. Comparando com dados internacionais, o
índice de violência brasileiro foi mediano, apesar de a violência física
isolada apresentar menor expressividade. Aqui, este tipo de agressão
correspondeu a 20% dos atos violentos, enquanto nos Estados Unidos, por
exemplo, passou de 40%.
Aceitação da violência
"Nós temos uma cultura
que muitas vezes banaliza a violência", afirma a psicóloga, que também
avaliou a naturalização da agressão nos questionários aplicados aos estudantes.
Além disto, outras questões disseram respeito à presença de atos violentos
durante a infância destes jovens. Estes fatores são importantes para entender o
modo como eles estão lidando com os conflitos nas relações de intimidade. Tânia
explica que, na juventude, o tipo de resolução de conflitos começa a se
estabelecer e tende a ser levado ao casamento. Os resultados da pesquisa
indicam que a agressividade está presente neste tipo de relação e a psicóloga
questiona "o que está sendo levado para uma relação conjugal?"
Para a pesquisa, foram
escolhidos jovens de diversos cursos, para garantir um equilíbrio entre homens
e mulheres. Os 362 entrevistados, voluntários, responderam a questionários no
espaço da sala de aula. A pesquisa deu origem à tese de doutoradoViolência no
namoro entre jovens universitários no estado de São Paulo, orientada por Lilia
Blima Schraiber e co-orientada por Paulo Rossi Menezes.
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