Animais cometem suicídio?
Tema que divide e confronta opiniões. No mundo inteiro, ovelhas,
baleias, pinguins, lemingues, cabras, gansos, etc., morrem voluntariamente.
Seria suicídio? O animal teria a intenção de acabar com a própria vida
premeditadamente? Segundo a grande maioria dos etólogos (estudiosos do
comportamento animal) a resposta é não. De uma forma geral animais não põem
fim, intencionalmente, à vida. Pesquisadores ponderam que, segundo Charles
Darwin (1809–1882), a própria seleção natural prepara e escolhe os indivíduos que
tenham mecanismos de sobrevivência atuantes. “O suicídio é uma prerrogativa
humana e não dá para ampliar para os demais animais”, afirma o etólogo Gelson
Genaro, do Centro Universitário Barão de Mauá, em RibeirãoPreto (SP).
A palavra “suicídio” deriva do latim “suicidium”, formado por “sui” de
si mesmo e “caedere”, “golpear, bater, matar”. O interesse pelo suicídio animal
é antigo e cercado por mitos e a ideia de admitir o suicídio de animais é
pretérita. Na Roma antiga, entendia-se suicídios de cavalos como rotineiros e
nobres. Inclusive há um relato de Aristóteles (384 a.C.- 322 a.C.) contando a
história de um cavalo que se jogou de um penhasco por ter descoberto que
acasalara com a égua sua mãe.
Não há confirmação dessa história. E, como ensina César Ades
(1943-2012), etólogo da Universidade de São Paulo (USP), “mesmo em situações
nas quais o animal se deixa devorar pelos filhotes, para que eles não morram de
fome, não são consideradas mortes voluntárias. Oferecer o próprio corpo como
alimento para a prole é um jeito de garantir a sobrevivência da espécie, não é
suicídio”.
Segundo os especialistas, certos comportamentos de alguns animais
parecem suicídio, mas não são:
- escorpiões quando acuados por um círculo de fogo se matariam lançando
seu ferrão contra o próprio corpo. O fato é que, o bicho fica agitado por causa
do calor e perde o controle da cauda, que pode se voltar sobre ele. O que mata
mesmo o animal é a desidratação provocada pela alta temperatura além do que ele
é imune ao próprio veneno;
- gatos não pulam de janelas. Ou cochilaram nos parapeitos sem redes de
proteção ou estavam perseguindo alguma borboleta ou pássaro e caíram da janela;
- a aranha europeia, que é encontrada na costa mediterrânea da Europa e
alimenta os filhotes regurgitando comida para eles.
Caso a comida fique escassa, a mãe, num ato extremo, se mataria
oferecendo o próprio corpo para ser devorado pelas crias. Esse fenômeno é
conhecido por “matrifagia” e garante a perpetuação da espécie, não sendo
considerado suicídio;
- o louva a deus macho não dá o próprio corpo para ser devorado pela
fêmea após a cópula. Ele tenta fugir rapidamente, senão ela o come para ficar
bem alimentada para garantir o desenvolvimento das crias que serão geradas;
- algumas aves diante de um predador se arrastam pelo chão, simulando
uma asa quebrada. O predador abocanha o pássaro enquanto os filhotes têm tempo
para escapar;
- quando as abelhas ferroam, perdem seus ferrões e morrem por causa
disso. Há poucas evidências que sugiram que abelhas saibam que o uso de seu
ferrão pode dar lugar à sua própria morte.Uma hipótese para a morte de animais,
principalmente grupos, pode ser o fato do polo norte magnético (que é diferente
do polo norte geográfico), o eixo no qual a Terra gira, estar se movendo,
deixando bússolas e animais desorientados. O polo magnético norte foi
localizado em 1831 pelo inglês James Clarke Ross e tem sido monitorado desde
então. Mas desde 2001 tem se inclinado de uma forma bem rápida. O campo
magnético terrestre é gerado pela rotação de metal líquido ao redor do núcleo
de ferro sólido e altamente aquecido existente no centro da Terra. O norte
magnético está se movendo mais depressa do que em qualquer outra época da
história da humanidade, ameaçando mudar as rotas tradicionais de migração de
animais.
Cientistas dizem que o norte magnético, que por 2 séculos tem estado no
norte do Canadá, desloca-se para a Rússia à velocidade de 60 km por ano. Aves
que voam para o sul a cada inverno do hemisfério norte, assim como criaturas marinhas
migratórias, podem ficar desorientadas. Além disso, animais longevos, como as
baleias e tartarugas, poderão precisar recalibrar seus instintos
de navegação.
Abelhas, cupins, peixes, baleias, ursos, golfinhos, pombos, etc., usam
um modo de localização e orientação que está em seus corpos, os cristais de
magnetita em seus cérebros (também presentes em bactérias e seres humanos).
Quando da presença de uma anormalidade ou rápida mudança do campo magnético,
pode causar tontura e desorientação.
Para haver o suicídio seriam necessárias inteligência, emoções e
intenção de morrer. Ninguém, atualmente, pode duvidar da inteligência e emoções
dos animais. E a intenção de morte? Cientista afirmam tratar-se o suicídio de
ação cometida unicamente por seres humanos com alguma espécie de transtorno
mental, como depressão, esquizofrenia, alcoolismo, outras drogas, etc..
Suicídio é “o ato de tirar a própria vida de forma voluntária e intencional” e
a grande maioria dos especialistas não acredita que os animais sejam capazes de
tal, apesar de acreditarem que animais compartilham conosco a maioria das
emoções como dor, amor, desespero, angústia, tristeza, solidão, depressão,
etc., como vários estudos comprovam.
Nas outras espécies, “o que ocorre são tentativas de fuga nas quais o
animal corre risco de morte, mas não procura morrer”, diz César Ades.
Especialistas tendem a atribuir desvarios nos animais a fatores como doença,
lesão, idade avançada ou perda de sentido. As baleias muitas vezes seguem suas
presas tão perto da costa, aventurando-se em águas rasas e perigosas para
evitar predadores, que acabam morrendo encalhadas.
Outro fenômeno observado é o “comportamento autoprejudicial”. As causas
exatas são desconhecidas e provavelmente variam caso a caso, mas potenciais
fatores incluem estresse, isolamento, medo, doença, desnutrição e tédio.
Pássaros em cativeiro, por exemplo, impedidos de voar e sociabilizar podem
arrancar algumas ou todas as suas penas, ficando algumas vezes completamente
sem elas antes de começarem a bicar o próprio corpo. Quando estes animais são
levados a extremos podem terminar com suas próprias vidas, seja por fome,
asfixia ou golpes com objetos. Cães e gatos podem se lamber excessiva e compulsivamente
diante de situações de estresse, etc..
Essas ações desesperadas tendem a acalmar o animal e ajudam-no a lidar
com suas situações de estresse, mas também podem ser uma ameaça para a saúde do
bicho, dependendo da sua intensidade. O primeiro passo é procurar o médico
veterinário que avaliará o comportamento e a necessidade de medicação.
No entanto, não há como negar que os animais, em algumas ocasiões,
morrem de maneiras bizarras, o que pode aparentar suicídio, mas a ciência diz
que não:
- um dos episódios mais marcantes de morte em massa de animais aconteceu
nos EUA, por volta de 1870. Durante uma nevasca, cerca de 100 mil bisões
despencaram para a morte de um penhasco de 1000 m de altura. Para muitos, foi
suicídio coletivo.
Até hoje os cientistas não conseguem explicar as causas do fenômeno, mas
nenhum deles endossa a teoria suicida;
- em 1958, um documentário divulgou que lemingues, pequenos roedores
herbívoros escandinavos, se jogam de precipícios. Hoje se sabe que era o
“efeito manada” – se um lemingue desatento cair de um penhasco, os que vêm
atrás pulam com ele;
- o treinador dos golfinhos do seriado de televisão Flipper, em 1963,
afirmou que um dos animais da produção, uma fêmea, afundou no tanque e ficou
sem respirar até morrer por não suportar mais o cativeiro. Para especialistas,
o animal buscava fugir do estresse e não tinha noção de que morreria;
- em 1978, 200 ovelhas, na cidade de Regio Emilia, na Itália, saíram
correndo do pasto, como se ouvissem uma voz de comando e jogaram-se no rio
Crostolo;
- em 1979, na cidade de Mulege, na costa do golfo do México, apareceram
56 cachalotes mortos. Os cachalotes colocaram-se na praia, um ao lado do outro,
para morrer;
- no Brasil, em 1987, cerca de 50 golfinhos da espécie cabeça de melão
foram encontrados mortos na Praia de Itacaré, na Bahia;
- outro dos casos mais famosos foi o que aconteceu em 1997, na costa
australiana. Mais de 600 golfinhos nadaram contra a corrente até que terminaram
totalmente encalhados, exaustos e morreram. De toda a suposta diversidade de
suicídios de animais registrados pela história, este merece especial atenção
pela quantidade de animais mortos e pela espécie que morreu;
- em 2006, 1500 ovelhas jogaram-se de um despenhadeiro na Turquia;
- em 2007 no Golfo Persico, vários golfinhos apareceram mortos;
- em 2009 houve o encalhe de centenas de baleias e golfinhos na ilha
situada entre a Tasmânia e a Austrália;
- em agosto de 2009 na pequena vila de Lauterbrünnen, nos alpes suíços,
vacas “cometeram suicídio”, se jogando de cima de montanhas rochosas. Em um
intervalo de 3 dias, 28 animais morreram misteriosamente após se atirarem de
uma altura de centenas de metros, informou o Mail Online. Uma hipótese é de que
as vacas cairam por seguir umas às outras em busca de mais pasto;
- em 2012, a equipe do Projeto Manatí registrou o encalhe de um golfinho
climene na Praia de Jericoacoara, no município de Jijoca de Jericoacoara. 15
dias antes, outro golfinho da mesma espécie havia encalhado na Praia de
Parajuru, município de Beberibe. Ambos os animais eram machos adultos e
encalharam vivos, porém resistiram por pouco tempo, mesmo sob os cuidados dos
colaboradores locais do projeto;
- milhares de lulas morreram na Califórnia em 2012. Biólogos procuraram
explicar o fenômeno a que tiveram ocasião de assistir nas praias do distrito de
Santa Cruz, na zona do Golfo de Monterrey. Segundo a CBS, na manhã daquele dia
a costa estava coberta com milhares de lulas de humboldt que não se sabe por
que razão deram à costa. Houve quem tentasse devolver as lulas ainda vivas ao
mar, mas estas persistiam em se atirar para a praia;
- um urso da lua fêmea na China dentro de gaiola para extração de bílis.
Seu filhote havia alcançado idade para cortarem seu abdômen e colocar um
cateter de 10 cm. Ao começarem a cortar o filhote ele gritou, chorou e sua mãe
ao ouvi-lo, arrebentou a jaula e correu na direção dele. Os homens assustados
fugiram. Ela tomou seu filhote contra o peito e o matou, em seguida se jogou
contra um muro diversas vezes até morrer;
- história que ocorreu no jardim zoológico de Viena, Áustria. Numa jaula
havia vários macacos e algumas raposas novas. Uma macaquinha se tornou muito
próxima de uma raposa e elas brincavam sempre juntas. Certo dia, foi
determinado que os animais seriam separados por uma divisória na jaula. A
macaquinha, desesperada ao perceber que estava separada da amiga raposa,
lançou-se num tanque de água para colocar fim à vida. O guarda tentou tirá-la,
mas foi mordido. A única solução foi abrir a grade divisória. As duas amigas felizes
brincaram o dia inteiro. Mas, à tarde, o guarda foi obrigado a colocar
novamente a grade. A macaquinha foi encontrada morta, na manhã seguinte, na
caixa d’água da jaula;
- Os társios, menores primatas do mundo com grandes olhos e orelhas, se
machucam intencionalmente ou chegam a suicidar-se devido à infelicidade ou o
estresse de ficar em cativeiro. Por esta razão não são encontrados em
zoológicos. Em cativeiro, o bicho pode ficar tão aflito que pode entrar em
choque e morrer e inclusive existem casos de animais que esmagaram a própria
cabeça contra objetos que resultaram em sua morte. Os társios podem estar
gritando e nenhum humano perceber. Isso porque eles são os únicos primatas que
têm “chamadas” constituídas de ultrassons, que o ouvido humano não capta;
- cientistas ficam intrigados com cães que param de comer e definham
após a morte do tutor. Muitos animais demostram comportamentos que indicam que
estão conscientes da ausência de seu tutor. Cães neste tipo de situações muitas
vezes entram em depressão e recusam a comida e a atenção até que finalmente
morrem. Paralisados por sentimentos de dor e perda.
“Ainda não sabemos se são reações semelhantes às dos humanos que perdem
a razão de viver”, diz César Ades. O que se sabe, é que há sempre a mão do
homem, esse grande predador, alterando situações e podem prejudicar muito os
animais: cativeiro, vivissecção, apresentações circenses, redes de pesca,
poluições sonoras – sonares, ruídos de atividades navais, poluições ambientais
– oceanos imundos provocando epidemias virais, bacterianas e associadas a
vermes, pesquisas para exploração de petróleo, testes de explosões atômicas,
etc..que podem gerar confusão espacial, mental e emocional nos bichos.
Embora a ciência afirme que não há suicídio entre os animais, fica uma
profunda indagação: qual é o nosso grau de responsabilidade na geração de
desespero e angústia dos animais, conduzindo-os a atos limites? Jonathan Safran
Foer (1977- ), escritor americano, autor do livro “Eating Animals” (traduzido
como “Comer Animais”), acha a referência ao suicídio de animais vazia. “Eu
acredito que nossas conversas sobre animais tendem a ir a esses extremos, em
vez de decidirem o que faremos diariamente. Não precisamos aproximar animais de
humanos para tratá-los decentemente. Se apenas tratarmos porcos como porcos e
vacas como vacas, será o suficiente”.
AMIGA...SEMPRE BOM REFLETIR...
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