Morre Nelson Mandela
Primeiro presidente negro da história da África do Sul, Mandela não
resistiu a uma longa enfermidade
Morreu nesta quinta-feira (5), aos 95 anos, o ex-presidente da
África do Sul Nelson Mandela. Vencedor do Prêmio Nobel da Paz, ele morreu em
casa, depois de ter ficado internado na Medi-Clinic Heart, hospital de
Pretória, devido a uma infecção pulmonar. Famoso por ter combatido o regime
segregacionista do Apartheid, Madiba, como é carinhosamente chamado pelos
sul-africanos, é uma das personalidades políticas mais bem vistas da história,
clamado não só na África do Sul, mas em todo o mundo.
Durante todo o período de internação, pessoas deixavam mensagens
de apoio, flores e presentes na entrada do hospital. Considerado o pai da
democracia sul-africana, Mandela era tratado como um ídolo local até hoje.
Nos últimos dias, o atual presidente da África do Sul, Jacob
Zuma, recorrentemente deu declarações ao público, rendendo homenagem a Mandela
e demonstrando apoio a sua família. Primeiro presidente negro da história
sul-africana, eleito em 1994 meses após o fim do Apartheid, Nelson Mandela
ainda mantinha uma imagem política muito forte no país, sendo respeitado por
diversos governantes.
História
Mandela nasceu em 1918 e ainda criança passou pela dificuldade
de perder o pai, Henry Mandela, analfabeto e chefe da tribo Tembu, da etnia
xhosa, umas das três mais importantes da África do Sul. Embora fosse o herdeiro
da liderança tribal, Mandela decidiu renunciar e estudar no Clarkebury Training
College, onde ficou conhecido por ser um aluno inquieto, fazendo jus ao seu
verdadeiro nome, Rolihlahla, que na língua xhosa significa “criador de
problemas”.
A inquietação de Mandela continuou. Após dois anos como
estudante da universidade de Fort Hare, Mandela foi expulso por organizar um
boicote às eleições estudantis. Já em 1941, ele fugiu para Johannesburgo para
não se casar forçadamente e na cidade ingressou no curso de Direito da
Universidade da África do Sul.
Apartheid
Com a
chegada do Partido Nacional ao poder, em 1948, entrou em vigor na África do Sul
a política de segregação racial do Apartheid.
Mandela, já advogado e com 30 anos, assumiu a liderança da maioria negra e
promoveu greves e protestos. Defensor de um país mais igualitário, ele, junto
com outros ativistas dos direitos humanos, passou a lutar por princípios de um
estado não racial, onde a terra seria dividida entre os que nela trabalhassem.
Já em
1960, Mandela se tornou clandestino em seu próprio país. Isso ocorreu após o
massacre de Sharperville, quando diversos negros foram mortos pelas forças
nacionais de segurança por protestarem, pacificamente, contra a Lei do Passe,
que obrigava os negros sul-africanos a portar uma caderneta que dizia aonde
eles poderiam transitar. O massacre fez com que a política do Apartheid ganhasse
notoriedade mundial pela primeira vez.
Mandela fundou o braço armado do Congresso Nacional Africano
(CNA), então uma simples associação, passando a estimular e realizar sabotagens
em todo o país. Caçado pelas autoridades, escapou durante 18 meses,
disfarçando-se de operário, porteiro e garagista, mas sempre discursando para
pequenos grupos clandestinos. Em 1962, porém, Mandela foi capturado pelas
autoridades sul-africanas e levado para a prisão, onde, inicialmente, cumpriria
pena por cinco anos. No ano seguinte, contudo, acabou acusado de traição e
sabotagem junto com outros líderes negros. Após o julgamento que durou sete
meses, foi condenado à prisão perpétua.
Nos 18 anos seguintes, seria o prisioneiro 46664 na prisão da
ilha de Robben, onde quebraria pedras até ser transferido para a prisão de
segurança-máxima de Pollsmoor, perto da Cidade do Cabo.
Apesar de ter suas ideias impedidas de publicação ou discussão,
a obstinação de Mandela em não renunciar a seus princípios e a longa duração de
seu cativeiro o transformaram no mais famoso preso político do mundo daquela
época. Em 1985, ele recusou proposta do então presidente Pieter Botha, que o
pediu que condenasse o recurso à luta armada em troca de sua libertação.
Em meio a muita pressão externa, a própria minoria branca da
África do sul já acreditava que a libertação de Mandela seria a única esperança
de uma solução pacífica para os conflitos que devastavam o país. Nesse momento,
Madiba não tinha mais sua liberdade condicionada à renúncia da luta
armada e os capítulos finais da negociação da sua soltura foram feitos por fax,
diretamente com Frederik de Klerk, novo presidente sul-africano.
Militância em liberdade
Finalmente, no dia 11 de fevereiro de 1990, após 27 anos, seis
meses e seis dias de reclusão, Nelson Mandela estava solto, para celebração da
população local e de ativistas de todo o planeta. Mas, mesmo livre da prisão,
ele permaneceu na sua batalha pelo fim do Apartheid. Logo em sua primeira
declaração pública, Madiba agradeceu a todos que se esforçaram por sua
libertação e reiterou que estava disposto a morrer pelo seu ideal de luta contra
a dominação branca sobre o povo negro e pela liberdade de outros 400 presos
políticos.
O processo de negociação com o Governo seria lento e exaustivo,
sendo interrompido diversas vezes, por episódios de violência extrema. Um deles
levaria Mandela a pedir a intervenção da ONU, em junho de 1992. Nessa época, já
eleito presidente do CNA, realizou viagens por vários países, dando novas
dimensões ao seu trabalho pelo fim pacífico do regime do Apartheid e por
estabelecer os princípios para uma nova África do Sul democrática. Êxito
reconhecido com a conquista do Prêmio Nobel da Paz de 1993 (dividido com de
Klerk).
No dia 22 de dezembro de 1993, em sessão histórica, o Parlamento
aprova nova Constituição da África do Sul, instituindo legalmente a igualdade
racial no país, dando fim ao regime separatista. Com a justiça feita, e o
caminho livre para eleição de negros, Nelson Mandela foi eleito presidente da
África do Sul em 1994, o primeiro presidente negro da história do país. Seu
mandato terminou em 1999, mas desde então Madiba permaneceu sendo uma das
figuras políticas mais influentes do país, status que possuía até a sua morte.
Ele gritava: “Poder” e os manifestantes respondiam: “Para o
Povo”.
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