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Pesquisa
aponta causas dos transtornos mentais provocados pelo ambiente de trabalho
Segundo o Anuário Estatístico da Previdência
Social de 2011, mais de 211 mil pessoas foram afastadas em razão de transtornos
mentais, gerando um gasto de R$ 213 milhões em pagamentos de benefícios.
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Um
estudo da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP) mostrou
de que forma os transtornos mentais podem estar ligados a pressões impostas no
ambiente de trabalho. Esta é a terceira razão de afastamento de trabalhadores
pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).
O
coordenador da pesquisa, o médico do trabalho João Silvestre da Silva-Júnior,
trabalha como perito da Previdência Social há seis anos e, tendo observado a
grande ocorrência de afastamentos por causas ligadas ao comportamento, decidiu
investigar o que tem provocado distúrbios psicológicos.
O
cientista notou que a violência no trabalho ocorre pela humilhação,
perseguição, além de agressões físicas e verbais e listou quatro razões
principais que prejudicam a saúde mental no ambiente corporativo.
A
primeira delas é a alta demanda de trabalho. “As pessoas têm baixo controle sob
o seu ritmo de trabalho; elas são solicitadas a várias e complexas tarefas”,
disse o pesquisador. O outro aspecto são os relacionamentos interpessoais
ruins, tanto verticais (com os chefes), quanto horizontais (entre os próprios
colegas).
A
terceira razão é o desequilíbrio entre esforço e recompensa. “Você se dedica ao
trabalho, mas não tem uma recompensa adequada à dedicação. A gente não fala só
de dinheiro. Às vezes, um reconhecimento, um elogio ao que você está
desempenhando”, explica Silvestre. O último aspecto citado pelo pesquisador é a
dedicação excessiva ao trabalho, que também pode afetar a saúde mental.
A
pesquisa coletou dados na unidade de maior volume de atendimentos do INSS da
capital paulista, a Glicério. Foram ouvidas 160 pessoas com algum tipo de
transtorno mental. Silvestre informa que, entre as pessoas que pediram o
auxílio doença nos últimos quatro anos, uma média de 10% apresentava algum tipo
de transtorno.
Segundo
o Anuário Estatístico da Previdência Social de 2011, mais de 211 mil pessoas
foram afastadas em razão de transtornos mentais, gerando um gasto de R$ 213
milhões em pagamentos de benefícios. “Quando você entende o que gera os
afastamentos, você pode estabelecer medidas para evitar os gastos”, disse. As
doenças mentais só perderam, naquele ano, para afastamentos por sequelas de
causas externas, como acidentes, e por doenças ortopédicas.
Em
São Paulo, a pesquisa constatou a alta presença de trabalhadores do setor de
serviços, como operadores de tele atendimento, profissionais da limpeza e da
saúde com doenças mentais. “Mas essa variável do tipo de trabalho não se
apresentou significativa no nosso estudo. Ela não apareceu como algo que
influencia o aparecimento do transtorno mental incapacitante”, relata.
A
pesquisa apontou que o perfil predominante entre os afastamentos foi o feminino
e alta escolaridade (mais de 11 anos de estudo). Mas Silvestre alerta para uma
distorção, porque as mulheres têm maior cuidado com a saúde, o que aumenta a
presença feminina nas estatísticas.
“O
sexo feminino apresentar uma maior possibilidade de transtorno mental está
relacionado às mulheres terem facilidade em relatar queixas. Reconhece-se que
as mulheres procuram os médicos com mais facilidade, elas têm uma maior
preocupação com a saúde do que os homens”, contou. De acordo com o cientista,
os homens demoram a ir ao médico e, quando vão, encontram-se em situação mais grave.
O fator escolaridade, segundo o estudo, pode afetar a percepção da existência das
doenças. A maioria dos afastamentos ocorre com indivíduos de alta escolaridade,
pois eles são mais esclarecidos. “As pessoas conseguem ter uma maior percepção
de que o ambiente de trabalho está sendo opressor. Quando ela percebe que ali é
um local ruim de trabalhar, ela vem a adoecer, a ter o distúrbio psicológico e
termina se afastando”, disse.
Para
melhorar o clima no trabalho e prevenir doenças, Silvestre recomenda que os
profissionais ligados à saúde e segurança do trabalho das empresas tenham
consciência sobre onde estão os fatores de risco. Ele sugere também uma melhora
da fiscalização por parte dos ministérios do Trabalho e da Saúde.
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