Nem minissaias nem decotes: moda brasileira para mulHERES
evangélicas
Consumidoras observam um vestido na loja evangélica Joyaly, em São Paulo, em 24 de outubro (AFP, Nelson Almeida)
Vendedora arruma a vitrine em São Paulo da marca evangélica Joyaly em 24 de outubro (AFP, Nelson Almeida)
Mulher posa em frente a manequins com roupas evangélicas da marca paulista Kauly em 24 de outubro (AFP, Nelson Almeida)
agora as mulheres evangélicas
brasileiras podem comprar uma roupa recatada, mas na moda, graças a um novo
mercado que cresce a olhos vistos seguindo o aumento desta religião no país com
maior número de católicos no mundo.
"Nem decotes muito
pronunciados nem minissaias", disse em entrevista à AFP Joyce Flores, a
jovem estilista da Joyaly, uma das marcas pioneiras da chamada "moda
evangélica", criada por sua mãe há uma década.
"Antes tínhamos essa
ideia das saias muito largas,
Agora temos coisas bonitas para
comprar, coloridas, mas que seguem os preceitos da nossa religião, porque se
você vai à igreja para adorar Deus, não pode ir com um super decote que vai
distrair o pastor", explicou.
Na loja há vestidos, saias e
blusas, porque muitas destas religiões impedem as mulheres de usar calças nos
cultos.
No coração de São Paulo, o
popular bairro do Brás ferve. Epicentro da indústria têxtil brasileira,
milhares de pessoas percorrem suas ruas cheias de lojas de confecções com os
preços mais baratos da cidade.
Dentro das lojas Joyaly, as
vendedoras mostram as roupas às mulheres de todas as idades enquanto os
comerciantes compram grandes quantidades para abastecer suas lojas que
embarcaram nesse 'boom'.
"A gente quer se vestir
bem", diz Elena Soares, que junto com a filha e o irmão viajaram 2.000 km
vindos do interior do país para comprar roupas para elas e sua pequena loja 'La
Belle de Jour'.
"Antes eu vendia a roupa
em bolsas, de casa em casa. Há pouco tempo abrimos nossa loja", diz
orgulhosa.
Lúcia de Souza se olha no
espelho com um vestido verde, com cintura marcada e largo nos tornozelos, com
meia manga para esconder os braços. É um look simples, mas a loja também tem
roupas para festas, sempre cumprindo as regras.
"Há mais de dez anos que
compro roupa aqui. São coisas bonitas, com muita variedade e cores, mas
evangélicas", disse à AFP enquanto continua se admirando no espelho.
-- "Os evangélicos aumentam,
"
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Quando Aurea Flores criou a
Joyaly, foi pioneira. Agora estas marcas especializadas já são cerca de trinta,
segundo dados da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e Confecção, que
representa um poderoso setor que nestes dias toma fôlego na famosa Semana de
Moda de São Paulo.
O setor faturou 63 bilhões de
dólares em 2011.
Flores começou fazendo
vestidos para ela mesma, até que a demanda de suas "irmãs" da igreja
foi tão grande que decidiu confeccionar em maior escala. Hoje a Joyaly produz
40.000 peças por mês.
"Nos últimos anos
crescemos 20%", disse um dos filhos de Aurea, Alison, que faz a
contabilidade da marca.
O Brasil, sexta economia
global, é o país com mais católicos no mundo: 123 milhões, cerca de 64,6% de
sua população.
Mas o número de católicos
diminui, enquanto aumenta a quantidade de evangélicos que, segundo o último
censo, passaram de 15,4% da população em 2000 (26,2 milhões) para 22,2% em 2010
(42,3 milhões).
Conservadores, formam um grupo
que acumula crescente poder político e econômico com programas de televisão,
uma forte representação no Congresso e capacidade de tecer grandes alianças
políticas pela enorme quantidade de pessoas que mobiliza.
Nas favelas, as igrejas
evangélicas se multiplicam e muitas vezes basta uma pequena casa para começar
um templo.
Fabrizio Paes é de família
católica. Seus pais tinham uma loja de roupas no Brás, mas antes da ascensão
dos evangélicos e das demandas do mercado, decidiram dar uma reviravolta no
negócio.
"Os evangélicos estão
crescendo e compram muito, graças a Deus", disse à AFP atrás da grande
bancada da loja Kauly, que duas vezes por ano envia um representante a Paris
para se inteirar das tendências mundiais da moda para adaptá-las aos moldes
deste mercado.
"Há seis anos decidimos
nos especializar totalmente. Fizemos um ano de adaptação com forte
investimento", comentou Paes. "Desde então o crescimento é muito
visível", acrescentou.
De Natalia Ramos (AFP)
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